quinta-feira, 12 de maio de 2011

Casinha de Taipa e de sapé!...

O QUADRO NA PAREDE

O quadro na parede
Lembra minha casa.
Ah! Se tivesse asas
Eu voaria pra lá!...

O quadro na parede
Retrata o passado, o tempo,
A criança que um dia fui...

O quadro traz-me a saudade do rio,
Da correnteza,
Que me trazia a certeza
De percorrer os campos
Sem medo de viver a liberdade.
Ali eu tinha confiança
Que todos falavam a verdade.

O quadro traz-me a saudade
De andar com os pés descalços
Pela estrada vermelha, empoeirada.
De sentir o cheiro do mato e da terra molhada
Só de lembrar traz-me
Felicidade.

O quadro traz-me a saudade
De ouvir o mugido do gado,
Dependurada na cerca.
Sentir o sol rubro
E descansar debaixo
Da árvore fresca.

Pulando amarelinha, percorrendo
O jardim encontrava abelhas
Fazendo zum, zum!

Eu brincava com as joaninhas,
Perseguia as borboletas
E colhia escondida da mamãe as violetas.

O céu nos dia de sol ouro era um brilho só.
O céu era um manto feito de anis com almofadas fofinhas
De algodão espalhadas na imensidão dos ares.
As tardes eram feitas com rendas de pratas na barragem do céu.

Rolando na relva eu dava cambalhotas
Era a criança mais feliz de toda a vizinhança
Sonhando cheia de sonhos e esperança.

Ali tudo virava fantasia
A mamãe ralhando, sua traquina,
Vem cá menina!

A vovó tricotando,
O papai na roça, com a foice roçando.
O galo cantando,
Có-có-ri-có...
O nenê chorando... Gugu, Gugu. Dádaá, pápá. mãmã...
A ave voando, fuuuuuu !
No galho da árvore.
O ninho de passarinho,
Com os filhotinhos.
O rio cheio onde livre
Nadavam os peixinhos;
As mulheres que batiam
As roupas na pedra no rio.

A dona Lazara, a dona Isaura, Ana, Joana, Cida e a Maria.
Tinha outras mulheres que agora não lembro os seus nomes.
As mulheres passavam o dia todas felizes!
Pareciam que lavavam suas almas naquelas águas cristalinas.
Cantando ave, ave, ave, ave...
Ave Mariaa...

Na época do natal era uma festa na casa do senhor Elias
E da dona Dita.

Eu cantava o hino de natal.
Noite de paz, noite de amor,
Hoje nos nasceu o Deus de amor.
Hoje a noite é bela vamos à capela,
Vamos juntos eu ela. Era Eu,minha irmã Lucia e minha amiga nadir

O povo todo reunido para celebrar o nascimento de Jesus.
Nas ceias natalinas todas as vizinhanças reunidas
Homens mulheres e crianças.
Todos rezavam, cantavam e histórias contavam.

Eu estava lá para brincar, tomar o ki suco e comer o pão.
Ai que saudade! O menino Jesus da dona Dita era belo!
O menino Jesus era tão belo, e cheio de graça!
Tudo era belo para mim e para todas as crianças.

No quintal na noite de natal no terreiro formava
Uma roda, um circulo enorme de crianças...
As crianças dançando e cantando ciranda,
Ciranda,cirandinha, vamos todos cirandar...

Os jovens aproveitavam a festa de natal para flertar,
Na época falavam, comentavam que estavam a paquerar.
Já os adultos riam, faziam duelo, tocavam viola e violão.
Faziam um repente e contavam casos.


Que saudade da lua no céu a rodar, das estrelas a cintilar.
O pomar onde eu colhia nas árvores as frutas no pé.
Ai que saudade da galinha, ganinzé!
Do bom-dia do seu José!

Na noite escura eu dormia com a claridade
Dos pirilampos que voavam perto das frestas da parede.
E com o som do sapo cururu,
E do grilo cri-cri.

Dá até vontade de chorar
Quando recordo o amanhecer.
Quando pia lá, naquele cafundó
O pio do inhambu chitão e do xororó.
Ai que saudade!
Da minha casinha de Taipa e de sapé!...

Poeta: Rosa Leme

2 comentários:

Rosa Leme disse...

Ai que saudade!
Da minha casinha de Taipa e de sapé!...

Obrigada Jesus por ser a mulher que hoje sou!
Nunca esquecerei a criança feliz que um dia fui!

Meu abraço a todos que tem lido minhas poesias.

Fanzine Episódio Cultural disse...

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